O saber dos pescadores e pescadoras pode ajudar comunidades e governos na conservação da pesca tropical

Estudo mostra que as lembranças de pescarias passadas são quase tão corretas quanto dados registrados

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O saber dos pescadores e pescadoras pode ajudar comunidades e governos na conservação da pesca tropical
Dois pescadores de camarões na reserva extrativa Mãe Grande de Curuçá, no Pará. Novo estudo demonstra que lembranças de pescadores e pescadoras sobre suas pescarias passadas podem ajudar a gerar dados históricos com precisão próxima aos monitoramentos convencionais.
Enrico Marone

Um novo estudo mostra que a memória humana tem precisão surpreendente na reconstrução de pescarias passadas. A pesquisa, conduzida no Brasil por Leandro Castello, bolsista em conservação marinha da Pew em 2017, demonstra que o uso da memória como registro de pescarias passadas pode ser quase tão confiável quanto o monitoramento convencional da pesca, criando mais uma opção para a gestão das pescarias com escassez de dados.

Isto é importante porque comunidades e governos locais precisam de informações confiáveis sobre a exploração histórica de peixes para gerenciar adequadamente as pescarias, e esses dados muitas vezes não existem. Sem eles, os pescadores podem estar contribuindo sem querer para a sobre-exploração da pesca.

Castello e seus coautores queriam entender se as memórias de pescarias, ou pescarias relembradas pelos pescadores muito tempo atrás, poderiam ser usadas para criar um histórico. Foram entrevistados quase 400 pescadores de 24 pescarias costeiras do Brasil, que relataram pescas passadas (medidas em quilos de peixe) e quanto tempo haviam passado pescando. As lembranças dos pescadores foram comparadas aos dados já documentados por métodos padronizados de monitoramento (ex.: livros de registros, entrevistas) de mais de 640.000 viagens de pesca.

Aplicou-se um modelo estatístico para avaliar a precisão das pescarias relembradas, o quanto a idade de cada entrevistado poderia ter afetado sua memória e os anos transcorridos desde cada pescaria relembrada.

Constatou-se que a lembrança de uma pescaria típica variava muito entre os pescadores mas, em geral, coincidia com a média documentada no passado. Na realidade, depois de calculadas as médias para uma pesqueira, as pescarias relembradas pelos pescadores resultaram em estimativas somente um pouco abaixo dos dados documentados. Como era de se esperar, as lembranças mais antigas foram as menos precisas. Observou-se a tendência de aumentar o tamanho das pescarias conforme elas eram mais antigas.

Três gerações de pescadores (da esquerda para a direita: Seu Chico, seu pai e seu avô) passam tempo na Lagoa de Araruama, no Rio de Janeiro, onde há mais de 300 anos se pesca a tainha. Os conhecimentos adquiridos e transmitidos por essas três gerações vêm sendo usados na criação de medidas de gestão de pesca, que estão ajudando a recuperar as populações de peixes.
Priscila Steffen

A idade dos pescadores, conforme se constatou, influencia a precisão das lembranças: os mais velhos geralmente subestimam a quantidade de peixes mais do que os jovens. No entanto, quando eles lembram qual seria uma pescaria típica, a influência da idade ou do tempo transcorrido foi relativamente pequena. Além disso, os pesquisadores desenvolveram um método de filtragem dos resultados que minimizou o impacto desses dois fatores.

Para Castello, os resultados do estudo demonstram que o uso de lembranças é uma maneira confiável de reunir dados, que são urgentemente necessários para ajudar nas decisões de gestão em áreas com escassez de informações, e o custo seria muito menor do que o dos métodos convencionais de monitoramento.

“Como as lembranças são umas das poucas fontes de informações relativamente confiáveis e disponíveis, sugerimos que os gestores usem os relatos de pescadores como base para ações de preservação, pelo menos até que haja dados com melhor qualidade”, declarou Castello. Ele acrescentou que o envolvimento direto de usuários dos recursos nas entrevistas é mais uma vantagem para a preservação.

“O conhecimento local difere da informação científica, porque ele é melhor entendido e, portanto, é percebido como sendo mais confiável para os usuários, o que pode ajudar no cumprimento das regras e participação nos projetos de manejo”, acrescenta.

Veja mais informações sobre o projeto no site de Castello, que ele espera que ajude pequenos pescadores do Brasil e do mundo a entenderem e gerenciarem melhor seus recursos.

Nate Fedrizzi trabalha para o Programa de Bolsistas Pew em Preservação Marinha.

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